terça-feira, 4 de novembro de 2008

Noite de Nenhum Poeta

Sonhei-te sem alma,
Sonhei-te a nu.
Sim. Sonhei-te calma.
Sim, talvez fosses tu.

Gélido ser errante,
De mente distante,
Eras metade de um instante.
A outra metade, constante.

Eras só a carne
Sem todo o resto.
Um total desarme.
Um húmido gesto.

Assim não me queria dar,
Não sem antes te mostrar
Tudo que há por dentro
E que a alma é alimento.

Então, o corpo parte.
Fica só o espírito,
Fica só a arte
De um ser onírico.

Hoje,
Intento poetizar esse sonâmbulo apogeu,
Mas nem sei o que é a versificação.
Aqui, escreve quem nunca leu,
Aqui, a rima não tem direcção,
Pois quem escreve isto não sou eu,
Pois em nada disto há razão.

Ontem,
Logrou Camões maravilhar com elegias,
Vislumbrou melífluas ninfas, suas musas,
Mais atento que eu ao mundo e suas fantasias.
Depois vieram ideias oblíquas, obtusas,
E na condição de Pessoa, por dinastias,
Leio sem tédio suas palavras doentias.

Amanhã,
Selarei em ti a parte de trás de um suspiro.
Serás também o meu vazio, o meu retiro.
Tentarei moldar um rosto em tua alma,
Tentarei forçar uma rima na palma
De uma mão tua ou talvez na barriga.
Uma rima bonita. Sim, talvez eu consiga.

2 comentários:

Ima disse...

Amei este poema! :)

VASCO disse...

ÉS UM POETA. UM ORGULHO PRÁ NAÇÃO. MELHOR CÓ eça!!!

Vasco Oliveira