segunda-feira, 25 de maio de 2009

Flores


É mais da parte da noite que – orquídeas – me desligo e ouço então o plasma das montanhas a fluir no breu atómico, nos olhos, no vanilóquio, no verbo acreditar, no ar da deusa nocturna, na noite teocrática que – magnólias – também se desliga, ouve aquilo e, leve como neve, entra-se-me pelo nariz escamoteado adentro, ali mesmo, nos olhos negros da noite, no mero vanilóquio de chuva de verão, no ar que – camélias – se me entra nas fossas, e não se vê, acredita-se, desloca-se a fé; breu atómico nos negros olhos, horas precisas e um auto de crença. Uma sereia subtil, flauta de uma estrela longínqua, frases para pendurar, espíritos à volta do pescoço, jorrando sorrisos, os lábios a arquejar, pálido no meu espírito juntamente com um sim quando as – açucenas – chamas gélidas desse fogo frio me invadiram o corpo, coleando virilhas pálidas, dedos dos pés torcidos e um respirar fundo, ao sorver as chamas nos pulmões, e gritei lançando fogo quando a dor mais terrível se transformou no prazer mais requintado e – jades – ejaculei, um último grito, trémulas revelações nos espasmos dos orgasmos dos feridos que os mantiam sãos e sóbrios sob olhares sombrios, obscuras contemplações, negra exposição, negra plateia, acto de amor na – dálias – supersticiosa noite, acto de poesia no escuro absoluto, ao erguer o meu peso de asas, olhos de acreditar, a minha pesada liberdade do fundo deste enorme pacto emocional.

É raro acontecerem sonhos feitos do brilho do sol, mas uma lentidão quase poética testemunha este acto de amor no breu, na retina preta, surge um império de silêncio, mantemos intacta a dignidade do verbo com os – tulipas - braços da alma sempre bem abertos. Súbitas proclamações da mais bela estirpe de tristeza pairam no tempo, formam paredes de energia estóica e um tecto de família e perdão; ainda assim, de um assim cobreado, serpentino, labiríntico, anjos testemunham graça e urgência no caminhar e um poema preto, analítico, - isménias - uma elegância de testemunha, e o porquê de a nossa mudez já não nos conseguir ouvir, ilusões lutam pelo poder, parte-se uma cadeia metafísica, uma sequência de dias felizes, carinho e juventude, promessa de que nenhum erro será alguma vez abandonado, não enquanto a nossa percepção alada e a nossa esperança continuarem a dançar neste jardim de – margaridas - estrelas longínquas, sob esta trémula tempestade sintagmática, em noites distantes, neste chão de palavras, que é mais da parte da noite que me desligo e ouço o plasma das montanhas a fluir, no ar negro, nas narinas, que – papoilas – é mais da parte da noite que acontecem sonhos feitos com o brilho do sol, que ouço sangue a fluir, vida a fluir, que me desligo e aconteço, ouço a textura de velhos poemas, olhos profundos no breu, velhos de longos narizes sentimentais e o ar negro que – celestinas – se me entra nas fossas, que ao meu lado, o teu cheiro transparente, sobre o meu ombro, a memória ainda quente de uma mão tua. Ainda te ouço a ressoar nos corredores da distância e do esquecimento, distantes reverberações do que – prímulas - senti, onde se guarda a infância, onde uma enorme fraqueza me condena a ti e a uma fétida nomenclatura de conceitos obsoletos, com frágeis dedos de futuro, carne fraca do amanhã, dedos de - acácias - frágeis mãos efémeras, o breu completo por onde cirandam as mãos de aranha do passado, escuridão nas ideias, até ao passado no mundo das ideias e uma fraqueza de futuro; o passado recente também, com a sua inexorável consistência de papel, e, assim, de um assim réu, ao hoje nos abraçamos porquanto esta delicadeza requintada do agora nos afaga os sentidos, um afagar principesco mas uma sensorialidade imperial e, assim, de um assim artífice, somos cordeiros do momento; navegantes do já, neste instante, e – rosas - o agora já passou.