domingo, 7 de junho de 2009

Estranho Acordo de Aforismos e Outras Significâncias


A primeira coisa que vejo num poema é uma mulher. Nas curvas insidiosas das palavras vejo ancas; no som plástico de um verso, uma pose feminina, um olhar e perversão. Qualquer romance merece uma rosa entre um homem e uma mulher; a linguagem tem direito a ver-nos fornicar, pois é tão necessária quanto nós.

Mas juro que não tenho piça quando a primeira coisa que ouço na melodia de um sintagma é uma mulher; prometo-lhe-me sem homem.

O que acontece é que à fraqueza da carne se sucede um sonho de pernas, línguas e mamas, os cabelos e a sintaxe dos broches; a verdade é que o brilho do suor nas tuas costas tem mais palavras do que isto ou qualquer outra poesia que já tenha lido, e talvez por isso possa ver nele, mais nitidamente, a semântica impossível que vou forçando na mulher de um poema.

O brilho do teu suor ou de qualquer outra excreção tua: a sobrevalorização do amor consiste no ardil do desperdício e na arte do excesso: um alexandrino que significa ser mais que do poesia, um sáfico que significa ser mais do que toda a literatura; a hermenêutica animal com um tesão incomensurável assiste ao nascer de uma flor, ao humedecer de uma cona, ouve a mudez dos espasmos do teu corpo, enamorados pela manivérsia do hedonismo, perdidos no dolo do prazer.

E, enfim, é por tudo isso que somos um poema bonito na obediência cega a preceito da beleza. Somos nós as palavras encerradas no suor que se te brilha nas costas e somos nós os espasmos do teu corpo quando te vens, perdidos na vaidade dos sentidos. Só que eu sou eu e tu não existes.